Dr. Dilson Cesar M. Jacobucci

Milagres Acontecem

Ou À espera de um milagre

Por: Dilson Cesar

17 de abril de 2017, 20:51

 

UM AMIGO ME CONTOU ESSA HISTÓRIA VERÍDICA DA VIDA DELE:

Eram anos 80, o Brasil vivendo sua eterna crise. Ele, sua esposa e filho de 3 anos estavam morando nos Estados Unidos, usufruindo de uma sonhada bolsa de estudos.

Eles como todos estudandes internacionais viviam com a maior economia e privação possivel...

Como a bolsa era de um valor pequeno, dependiam da remessa de dólares que, mensalmente, seu pai o fazia através da retirada de um valor equivalente a 900 (novecentos) dólares; 300 (trezentos) por pessoa que estavam depositados em sua poupança no Brasil. Tal poupança era fruto de alguns anos de economia somados à venda de um fusquinha que do casal, às vésperas de embarcar para os STATES...

Entretanto, o governo brasileiro, àquela época, limitava a se levar ao exterior, mesmo para se estudar por 1 (um) ano, no máximo U$1.000 (hum mil dólares por pessoa) ou seja, muito pouco para se morar, montar casa, obter uma condução, pagar escola para o filho, enfim sobreviver.....

Já se passavam quatro meses e tudo fluía conforme o esperado, quando o governo brasileiro resolveu mudar as regras e exigir todo um novo processo para se poder remeter os dólares para o exterior. Com isso, novas certidões tiveram que ser solicitadas, inclusive na escolinha da criança.

Para se preparar todo o processo mais de 60 dias se passaram! Mesmo porque naquela época tudo tinha que ser feito através do correio e, entre a remessa e chegada dos documentos, nada acontecia em menos de 20 dias...

Durante esse periodo, havia um congresso em San Francisco, na Califórnia e meu amigo já estava com inscrição e pacote de viagem pagos antes mesmo de sair do Brasil...

Assim lá foi ele ao congresso, com dinheirinho contado pras despesas do dia a dia, esperando que, a qualquer instante, chegasse a ordem de pagamento do Brasil...

Lá procurou  a agência do Banco do Brasil, do Banespa e até ao consulado foi, mostrava que tinha no Brasil muito dinheiro na poupança daqueles bancos e que isso poderia ser confirmado por telex ou por telefone (não existia fax! e internet nem se sonhava à época ) e absolutamente ninguém resolvia lhe liberar alguns poucos dólares.

Para piorar, ao telefonar para a esposa soube que o filho estava doente com febre, diarréia e vômitos e que teve que ir ao pediatra. Por sorte (e também por exigência) o seguro de saúde cobria as consultas, porém, não cobria os medicamentos. Para isso, a esposa teve que pedir emprestado.....

Já quase em desespêro, tentou antecipar a volta. Contudo, para o fazer-lo, teria que pagar uma multa para a companhia aérea e dinheiro era o que ele não tinha..

Dialogou com alguns colegas de especialidade de cidades vizinhas à sua, que também estavam no congresso e que retornariam direto ao Brasil, lhes propondo trocar cheques do Brasil por dòlares, sem sucesso !!!

O máximo que conseguiu foi que um dos colegas lhe doasse as  últimas edições da revista VEJA, que falavam da crise brasileira e que continham no texto a cotação do dólar naquela época...

Resignado, tomou o último ônibus para o aeroporto internacional de San Francisco.

Como os ônibus paravam de circular muito antes do horário de seu voô, previsto para 01h20min da madrugada, despachou sua bagagem ficando apenas com a bagagem de mão, a pasta do congresso em cujo interior existiam alguns cartões postais de San Francisco, que eram fornecidos à vontade pela agência de turismo oficial, presente no congresso...

Como ocorre na maioria dos aeroportos, só lá no canto, bem no fundo do aeroporto haviam cadeiras livres para se sentar. Como o embarque demoraria muito lá ele se sentou e começou a escrever nos postais.

A uma certa altura chegou um casal que carregava uma pasta igual a dele, do mesmo congreso e começaram a conversar em inglês. Logo se identificaram como sendo brasileiros moradores em Brasilia. Conversa vai, conversa vem o convidaram para tomar um lanche.

Ele os acompanhou, porém nada pediu pois só tinha o trôco do ônibus, algo em tôrno de U$ 5,00 (cinco dólares) e algumas poucas moedas na bolsa.

O casal pediu-lhe para lhe vender alguns postais, e que o deixasse numa das caixas de correio do aeroporto, pois o embarque do casal seria cerca de duas horas antes do dele.

Ele deu os postais, porém nada cobrou, afinal os havia ganho.

O casal insistiu, daí ele tomou coragem para lhes dizer o que estava acontecendo a si e a sua familia, mostrou a VEJA e, com lágrimas, narrou suas dificuldades...

O casal prontamente lhe cedeu U$ 200,00 (duzentos dólares), aceitou seu cheque com valor do câmbio oficial e embarcou!

Hoje, passados mais de 30 anos, tendo frequentado inúmeros congressos e  ido inúmeras vezes à Brasilia, meu amigo nunca mais encontrou o casal!

 


Fonte: um amigo